Basta existir para ser tentado

No enigmático artigo intitulado "Basta existir para ser tentado", o autor explora a natureza das artimanhas do personagem Maldanado para levar o paciente à condenação eterna. Através de recomendações cuidadosamente planejadas, o tio revela estratégias sutis, como a omissão dos deveres, a incoerência, o juízo apático e a aplicação de dois pesos e duas medidas. O leitor é instigado a refletir sobre as consequências desastrosas da falha na comunicação e a se confrontar com suas próprias experiências de sucumbir a essas artimanhas. Prepare-se para uma análise profunda da natureza humana e suas fraquezas ocultas.

PESSOAL

Nilson Santos

6/26/20232 min read

CARTA III

Nesta carta, Maldanado expressa o seu contentamento com as informações que tem recebido de seu sobrinho sobre o relacionamento que o paciente tem desenvolvido com a sua mãe.

Não sendo suficientemente diabólica a natureza de toda a confusão, ele despende calorosas e específicas recomendações ao seu sobrinho para que maiores vantagens possam ser obtidas do quadro atual e que possam assim, garantir a ida do paciente a condenação eterna.

Artimanha I - Omissão dos deveres

A primeira recomendação do tio atencioso é que seu sobrinho conduza a atenção do paciente para o seu estado interior, assim, deixando de lado todos os seus deveres elementares e focando naqueles mais específicos, “virtuosos” e “grandiosos”.

Artimanha II - Incoerência

O segundo estratagema incumbe-se de destoar a realidade objetiva com os pensamentos meramente imaginativos do paciente. Dessa forma, o terreno ficará fértil o bastante para que a incoerência brote por todos os cantos de maneira que o paciente seja apto a levantar da oração pela alma da esposa ou do filho para ir bater na esposa ou no filho reais ou mesmo insultá-los sem o menor escrúpulo.

Artimanha III - Juízo apático

A sugestão seguinte é a de que o paciente preste atenção nos detalhes que considera mais insuportáveis. Aqueles tons ou expressões julgadas irritantes. Dessa maneira, retirando-se como sujeito atuante na realidade que observa e omitindo o fato de que este mesmo sujeito tem a possibilidade de possuir as mesmas características que julga detestáveis, quiçá piores.

Artimanha IV - Dois pesos e duas medidas

Por fim, todos os caminhos levam a este ponto, (contraindicado todas as recomendações feitas no texto do livro de Matheus, capítulo 7) onde o sujeito suscita em sua mente a necessidade de ser compreendido de forma literal em seus pronunciamentos, entretanto, julgando, cada vírgula e cada sentença apresentada pela mãe, inclusive quanto ao tom, o contexto e a intenção pressuposta. Deste modo, chegando a situação em que um ser humano diz coisas com o propósito expresso de ofender e, ainda assim, queixa-se quando é ele o ofendido.

Incomensuráveis são os resultados catastróficos da falha na comunicação entre duas pessoas, ainda mais quando a proximidade é pressuposta e há uma expectativa entre aqueles que se relacionam. Acredito, caro amigo, que enquanto lê os fato supracitados você se defronte com a incômoda situação de conseguir se enxergar, sicário e vítima, em algum momento da vida, aquém da imagem projetada pelo ego. Acredito nisso porque consigo me ver detalhadamente em todos os momentos em que caí em cada artimanha apresentada por Maldanado. Homo sum humani a me nihil alienum puto.